Borrachalioteca

Um Jeito Diferente de Ler o Mundo: a Borrachalioteca de Sabará


A Borrachalioteca de Sabará  é uma entidade civil sem fins lucrativos, considerada de utilidade pública para o município e tendo como objetivos formais o fomento à prática da leitura, a difusão cultural e o aprimoramento humano. Mixto de borracharia e biblioteca – daí o neologismo do nome fantasia, sua razão social é “Instituto Cultural Aníbal Machado”, denominação escolhida em homenagem ao grande escritor, nascido em Sabará, remontando suas atividades ao ano de 2002. Integra a Associação de Bibliotecas Comunitárias da Região Metropolitana de Belo Horizonte, com amplo diálogo com os principais organismos de fomento à leitura do país, tendo colaboradores espalhados por todo o país e no exterior. Seu acervo literário é composto por aproximadamente 8000 obras, dentre as quais romances, livros didáticos e paradidáticos de diversos níveis, enciclopédias, dicionários, publicações científicas, “gibis” e livros infantis, cuja manutenção é realizada por agentes voluntários, em espaço mantido com recursos próprios.

A Borrachalioteca é um espaço bastante peculiar. Localizado em uma praça – a única – do bairro das Caieiras, próximo ao centro da cidade, foi se desenvolvendo aos poucos entre os pneus que o jovial e bem humorado Joaquim Damascena guardava pelos cantos de sua borracharia, onde ensinou ao filho Marcos Túlio os segredos da profissão. Túlio, como habituou-se a ser chamado o rapaz, desde tenra idade é um aficionado por literatura, sendo a leitura sua principal ocupação nas horas de folga. Por esse motivo começou a levar seus livros para o trabalho: Machado de Assis, Ledo Ivo, Adélia Prado,  algumas revistas. Aos poucos as pessoas começaram a mostrar interesse, doar livros que não queriam mais, outras pediam emprestado. Isto operou uma mudança no lugar. Os tradicionais pôsteres de mulheres seminuas em posições provocantes sumiram de vez, improvisram-se assentos com peças absoletas de veículos e penus velhos, a pequena estante antes espremida a um canto multiplicou-se pelas paredes da oficina e em menos de dois anos já contava com quase mil obras: romances, dicionários, enciclopédias, revistas, gibis, dicionários, além de jornais que Túlio comprava diariamente e disponibilizava para quem quizesse. Surgia assim a Borrachalioteca. Bem humorado como o pai, Túlio tinha entre  seus muitos clientes  um cartunista famoso, Gerson “Son” Salvador, que apresentou-o à midia impressa. A partir de então a borracharia-biblioteca tornou-se sensação nas páginas dos mais importantes jornais do país. Virou matéria de programas de televisão – alguns de emissoras “educativas” –  e tema de video-documentários,  de revistas de circulação nacional e de artigos publicados na intenet. Tornou-se popular, conhecida em todo o país. As doações quintuplicaram-se, vindas de todo o país. Escritores, entidades, particulares doaram, até um Senador da República enviou livros. Seu acervo em 2005 já contava com cerca de 6000 exemplares, que por restrições de espaço foram divididos entre a casa de Túlio e a borracharia. A partir daí as obras que chegavam passaram a ser separadas em três categorias básicas: “literatura” – compreendendo todas as obras de ficção e não-ficção, para-didáticos – gastronomia, artes etc. – e os “didáticos”, que durante algum tempo constituíram o grosso das doações, além dos “recicláveis”, volumes sem condições de uso por seu conteúdo ultrapassado – principalmente no caso dos didáticos – ou por apresentarem cortes, mofo em excesso, faltarem páginas atc., cuja utilização poderia comprometer a saúde dos usuários.
Em agosto de 2005 foi fundado o Instituto Cultural Aníbal Machado, tendo Marcos Túlio como Presidente e Dikamba como Vice, além de dois secretários, dois tesoureiros e um Conselho Fiscal composto por seis membros, tendo Joaquim Damascena como “Membro Honorário”.

As ações diversificaram-se. Além dos empréstimos residenciais sem burocracia, bastando escrever num livro o nome do usuário e o livro retirado,  passaram a acontecer outras atividades no exíguo espaço da borracharia e na praça em frente: contação de histórias, apresentações teatrais e oficinas.
    Em julho de 2007 a Borrachalioteca foi tema do programa “Globo Repórter”, da Rede Globo de Televisão, o que gerou grande repercussão na cidade e proporcionou mais visibilidade. A ação já havia sido focaliza pelas lentes da emissora anteriormente, tendo inclusive sido exibida nos programas “Fantástico” e “Mais Você”, além de ter merecido especial atenção das emissoras Record, SBT, Canção Nova, Rede TV!, TV Escola e Rede Minas, mas sua inclusão na grade do programa conferiu-lhe um novo status perante a comunidade. Centenas de livros chegaram, provenientes de toda a região metropolitana e também de diversas partes do país, o número de empréstimos foi ampliado e pessoas que assistiram ao programa em outros estados da federação telefonaram dizendo-se emocionadas com o trabalho. Tanto que os atores Adriano Cabral e Riva Santos vieram de Pernambuco apresentar gratuitamente o espetáculo “O Desejo de Catirina”, com intensa participação da comunidade local, que solicitada pelos artistas não se negou a assumir vários papéis no enredo.  Durante as comemorações do 5º aniversário da Borrachalioteca foi realizado em setembro o 1° Encontro Intermunicipal de Contadores de Histórias, com a presença de 15 contadores das cidades próximas e de um público de duzentas pessoas da comunidade, contando com diversas atrações locais e artistas de Belo Horizonte. 
Em reconhecimento a suas ações de incentivo à leitura a Borrachalioteca recebeu dos Ministérios da Cultura e da Educação e da Fundação Satillana o 1º lugar no “Prêmio Viva Leitura 2007”, na categoria que engloba as bibliotecas públicas,  privadas e comunitárias. Sobre ela foram publicadas cindo matérias publicadas na mídia impressa, três entrevistas no rádio e seis na mídia televisiva, com projeção nacional.

Em 2008, até o mês de maio foram exibidas nove matérias na imprensa, com destaque para as edições de números 212 e  18 (Especial Leitura) da revista Nossa Escola, que coincidiram com o início da divulgação da Borrachalioteca em banners nos pontos de ônibus, a oferta de uma sala para implantação de uma célula no Centro de Atenção Psicossocial no bairro Nações Unidas, em Sabará, e a participação em uma mesa na Bienal do Livro de Minas, megaevento  literário promovido pela Câmara Mineira do Livro entre os dias 15 e 25 de maio.

Em 2008 foram relaizadas diversas oficinas – das quais “Livro Artesanal” ministrada pela artesã Ana Maria Possas Machado e “Literatura de Cordel e Xilogravura”, ministrada pelo cordelista Olegário Alfredo (Mestre Gaio) –  além de  esquetes teatrais,  atividades de narração de histórias e apresentações diversas, em parceria com a Associação das Bibliotecas Comunitárias da Região Metropolitana de Belo Horizonte – Sabic.  A estréia das esquetes foi com o monólogo “O Segredo do Bruxo”, com o ator Rodrigo Leste, enfocando a vida e obra do escritor Machado de Assis, realizada no teatro da Fundação Arcelor Mittal. A oficina de Literatura de Cordel foi ministrada nos dias 6 e 8 de junho na cidade de Pirapora, onde foi também realizado um sarau literário com participação de Jorge Dikamba & Filhos (Oficina Tambores Gerais), a convite do pescador “Léo do Peixe”, um importante fomentador da leitura naquela cidade e parceiro da Borrachalioteca.

Foram programados também um 2º Encontro Intermunicipal de Contadores de Histórias, um Encontro Regional da Cultura Popular, mostras de cinema, exposições e saraus poéticos. Uma exposição considerada de extrema importância sobre a obra de Aníbal Machado, patrono da instituição foi organizada em conjunto com a Secretaria de Estado da Cultura no na Pousada Sepúlveda, em Sabará.
Em março de 2009 a Borrachalioteca deu início a uma ação inovadora. As contadoras de histórias Águida Costa, Dona Lurdinha e Márcia Reis passaram a ministrar oficinas de criação, análise e declamação poética para adolescentes, que resultou na criação do grupo Arautos da Poesia. Formado por 15 adolescentes. O grupo, que iniciou suas apresentações às portas das igrejas da cidade, ao final das missas dominicais, tem levado suas  performances a diversos lugares, sempre com excelente recepção por parte do público, sendo que uma de suas integrantes recebeu até um prêmio em dinheiro em um concurso de poesias na cidade. O grupo tem sido objeto de interesse por parte da imprensa local, além de receber diversos convites para apresentações em Sabará e em Belo Horizonte.

No dia 11 de julho de 2010 foi inaugurada a Casa das Artes, projeto  criado por Jorge Dikamba e executado com recursos provenientes do Fundo Estadual de Cultura. A Casa, situada na região central da cidade, na margem esquerda do Rio das Velhas, abriga acervo infanto-juvenil com cerca de 2.500 obras, doadas pelo Centro de Alfabetização e Letramento da Faculdade de Educação da UFMG e por apoiadores anônimos, além de cerca de mil livretos de cordel formando a “Cordelteca Olegário Alfredo”, além de sala multimeios onde passaram a ser realizadas as oficinas e ensaios dos grupos Arautos da Poesia e Tambores Gerais.

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