terça-feira, 16 de setembro de 2014

Lançamento do livro Mulheres



Mulheres












A hora-ruim, do meio-dia. A sexta, o demo à solta no mundo, hora de recolhimento e rezação. Apeamos. No outrora-um-pátio, entrada de grande casa, fazenda antiga das de fama, sobrado perobal. Imaginando dava para ouvir os bois, na azáfama dos dias idos, o café cheiroso, a sofrida escravaria, o alambique suando sua cachaça. Assentados no batente de pedra preta preparamos o fogo, esquentar o feijão da jornada a ser longa, rumo do São Gonçalo. Nem não ouvimos os passos descalços, felinos rudes, do ancião que nos chegou por entre as moitas de gravatá e erva-cidreira no antes-quintal. Velho que perdeu da lembrança o tempo, visão saída de uma história de antanho, conto de assombrar. Mas ainda vivo, mesmo, pitando um cachimbo de barro cozido-queimado, em fogo de terra, seus olhos eram só crianças rindo, rapazes, olhos de não querer ir. Avô-menino. (...)

Trecho do conto Memorial, de Jorge Dikamba. 
In Mulheres. José Mauro da Costa, org. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2014.